5 de mai. de 2009

CRASE

A palavra crase é de origem grega e significa "fusão", "mistura". Na língua portuguesa, é o nome que se dá à "junção" de duas vogais idênticas. É de grande importância a crase da preposição "a" com o artigo feminino "a" (s), com o pronome demonstrativo "a" (s), com o "a" inicial dos pronomes aquele(s), aquela(s), aquilo e com o "a" do relativo a qual (as quais). Na escrita, utilizamos o acento grave ( ` ) para indicar a crase. O uso apropriado do acento grave, depende da compreensão da fusão das duas vogais. É fundamental também, para o entendimento da crase, dominar a regência dos verbos e nomes que exigem a preposição "a". Aprender a usar a crase, portanto, consiste em aprender a verificar a ocorrência simultânea de uma preposição e um artigo ou pronome.
Observe:

Vou a a igreja.Vou à igreja.
No exemplo acima, temos a ocorrência da preposição "a", exigida pelo verbo ir (ir a algum lugar) e a ocorrência do artigo "a" que está determinando o substantivo feminino igreja. Quando ocorre esse encontro das duas vogais e elas se unem, a união delas é indicada pelo acento grave.
Observe os outros exemplos:

Conheço a alunaRefiro-me à aluna.

No primeiro exemplo, o verbo é transitivo (conhecer algo ou alguém), logo não exige preposição e a crase não pode ocorrer. No segundo exemplo, o verbo é transitivo indireto (referir-se a algo ou a alguém) e exige a preposição "a". Portanto, a crase é possível, desde que o termo seguinte seja feminino e admita o artigo feminino "a" ou um dos pronomes já especificados.
Há duas maneiras de verificar a existência de um artigo feminino "a"(s) ou de um pronome demonstrativo "a"(s) após uma preposição "a":

1- Colocar um termo masculino no lugar do termo feminino que se está em dúvida. Se surgir a forma ao, ocorrerá crase antes do termo feminino.
Veja os exemplos:
Conheço "a" aluna. / Conheço o aluno.Refiro-me ao aluno. / Refiro-me à aluna.
2- Trocar o termo regente acompanhado da preposição a por outro acompanhado de uma preposição diferente (para, em, de, por, sob, sobre). Se essas preposições não se contraírem com o artigo, ou seja, se não surgirem novas formas (na(s), da(s), pela(s),...), não haverá crase.

Veja os exemplos::
- Penso na aluna.- Apaixonei-me pela aluna.
- Começou a brigar.
- Cansou de brigar.- Insiste em brigar.- Foi punido por brigar.- Optou por brigar.
Atenção: Lembre-se sempre que não basta provar a existência da preposição "a" ou do artigo "a", é preciso provar que existem os dois.
Evidentemente, se o termo regido não admitir a anteposição do artigo feminino "a"(s), não haverá crase. Veja os principais casos em que a crase NÃO ocorre:
- diante de substantivos masculinos:
Andamos a cavalo.Fomos a pé.Passou a camisa a ferro.Fazer o exercício a lápis.Compramos os móveis a prazo.Assisitimos a espetáculos magníficos.
- diante de verbos no infinitivo:
A criança começou a falar.Ela não tem nada a dizer.Estavam a correr pelo parque.Estou disposto a ajudar.Continuamos a observar as plantas.Voltamos a contemplar o céu.
Obs.: Como os verbos não admitem artigos, constatamos que o "a" dos exemplos acima é apenas preposição, logo não ocorrerá crase.
- diante da maioria dos pronomes e das expressões de tratamento, com exceção das formas senhora, senhorita e dona:
Diga a ela que não estarei em casa amanhã.Entreguei a todos os documentos necessários.Ele fez referência a Vossa Excelência no discurso de ontem.Peço a Vossa Senhoria que aguarde alguns minutos.Mostrarei a vocês nossas propostas de trabalho.Quero informar a algumas pessoas o que está acontecendo.Isso não interessa a nenhum de nós.Aonde você pretende ir a esta hora?Agradeci a ele, a quem tudo devo.
Os poucos casos em que ocorre crase diante dos pronomes podem ser identificados pelo método explicado anteriormente. Troque a palavra feminina por uma masculina, caso na nova construção surgir a forma ao, ocorrerá crase. Por exemplo:
Refiro-me à mesma pessoa. (Refiro-me ao mesmo indivíduo.)Informei o ocorrido à senhora. (Informei o ocorrido ao senhor.)Peça à própria Cláudia para sair mais cedo. (Peça ao próprio Cláudio para sair mais cedo.)
- diante de numerais cardinais:
Chegou a duzentos o número de feridos.Daqui a uma semana começa o campeonato.
Casos em que a crase SEMPRE ocorre:

- diante de palavras femininas:
Amanhã iremos à festa de aniversário de minha colega.Sempre vamos à praia no verão.Ela disse à irmã o que havia escutado pelos corredores.Sou grata à população.Fumar é prejudicial à saúde.Este aparelho é posterior à invenção do telefone.
- diante da palavra "moda", com o sentido de "à moda de" (mesmo que a expressão moda de fique subentendida):
O jogador fez um gol à (moda de) Pelé. Usava sapatos à (moda de) Luis XV.Estava com vontade de comer frango à (moda de) passarinho.O menino resolveu vestir-se à (moda de) Fidel Castro.
- na indicação de horas:
Acordei às sete horas da manhã.Elas chegaram às dez horas.Foram dormir à meia-noite.Ele saiu às duas horas.
- em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas de que paticipam palavras femininas. Por exemplo:
à tarde
às ocultas
às pressas
à medida que
à noite
às claras
às escondidas
à força
à vontade
à beça
à larga
à escuta
às avessas
à revelia
à exceção de
à imitação de
à esquerda
às turras
às vezes
à chave
à direita
à procura
à deriva
à toa
à luz
à sombra de
à frente de
à proporção que
à semelhança de
às ordens
à beira de
Crase diante de Nomes de Lugar

Alguns nomes de lugar não admitem a anteposição do artigo "a". Outros, entretanto, admitem o artigo, de modo que diante deles haverá crase, desde que o termo regente exija a preposição "a". Para saber se um nome de lugar admite ou não a anteposição do artigo feminino "a", deve-se substituir o termo regente por um verbo que peça a preposição "de" ou "em". A ocorrência da contração "da" ou "na" prova que esse nome de lugar aceita o artigo e, por isso, haverá crase. Por exemplo:
Vou à França. (Vim da França. Estou na França.)Cheguei à Grécia. (Vim da Grécia. Estou na Grécia.)Retornarei à Itália. (Vim da Itália. Estou na Itália)Vou a Porto Alegre. (Vim de Porto Alegre. Estou em Porto Alegre.) Cheguei a Pernambuco. (Vim de Pernambuco. Estou em Pernambuco.)Retornarei a São Paulo. (Vim de São Paulo. Estou em São Paulo.)

ATENÇÃO: Quando o nome de lugar estiver especificado, ocorrerá crase. Veja:

Retornarei à São Paulo dos bandeirantes.Irei à Salvador de Jorge Amado.
Crase diante dos Pronomes Demonstrativos Aquele(s), Aquela(s), Aquilo
Haverá crase diante desses pronomes sempre que o termo regente exigir a preposição "a". Por exemplo:
Refiro-me
a
aquele
atentado.
Preposição
Pronome
Refiro-me àquele atentado.
O termo regente do exemplo acima é o verbo transitivo indireto referir (referir-se a algo ou alguém) e exige preposição, portanto, ocorre a crase.
Observe este outro exemplo:
Aluguei aquela casa.
O verbo "alugar" é transitivo direto (alugar algo) e não exige preposição. Logo, a crase não ocorre nesse caso. Veja outros exemplos:
Dediquei àquela senhora todo o meu trabalho.Quero agradecer àqueles que me socorreram.Refiro-me àquilo que aconteceu com seu pai.Não obedecerei àquele sujeito.Assisti àquele filme três vezes.Espero aquele rapaz.Fiz aquilo que você disse.Comprei aquela caneta.

Crase com os Pronomes Relativos A Qual, As Quais

A ocorrência da crase com os pronomes relativos a qual e as quais depende do verbo. Se o verbo que rege esses pronomes exigir a preposição "a", haverá crase. É possível detectar a ocorrência da crase nesses casos, utilizando a substituição do termo regido feminino por um termo regido masculino. Por exemplo:
A igreja à qual me refiro fica no centro da cidade.O monumento ao qual me refiro fica no centro da cidade.Caso surja a forma ao com a troca do termo, ocorrerá a crase.
Veja outros exemplos:
São normas às quais todos os alunos devem obedecer.Esta foi a conclusão à qual ele chegou.Várias alunas às quais ele fez perguntas não souberam responder nenhuma das questões.A sessão à qual assisti estava vazia.

Crase com o Pronome Demonstrativo "a"

A ocorrência da crase com o pronome demonstrativo "a" também pode ser detectada através da substituição do termo regente feminino por um termo regido masculino. Veja:
Minha revolta é ligada à do meu país.Meu luto é ligado ao do meu país.As orações são semelhantes às de antes.Os exemplos são semelhantes aos de antes.Aquela rua é transversal à que vai dar na minha casa.Aquele beco é transversal ao que vai dar na minha casa.Suas perguntas são superiores às dele.Seus argumentos são superiores aos dele.Sua blusa é idêntica à de minha colega.Seu casaco é idêntico ao de minha colega.

A Palavra Distância

Se a palavra distância estiver especificada, determinada, a crase deve ocorrer. Por exemplo:
Sua casa fica à distância de 100 Km daqui. (a palavra está determinada)Todos devem ficar à distância de 50 metros do palco. (a palavra está especificada)
Se a palavra distância não estiver especificada, a crase não pode ocorrer. Por exemplo:
Os militares ficaram a distância.Gostava de fotografar a distância.Ensinou a distância.Dizem que aquele médico cura a distância.Reconheci o menino a distância.
Observação: Por motivo de clareza, para evitar ambigüidade, pode-se usar a crase. Veja:
Gostava de fotografar à distância.Ensinou à distância.Dizem que aquele médico cura à distância.
Casos em que a ocorrência da crase é FACULTATIVA

- diante de nomes próprios femininos:

Observação: É facultativo o uso da crase diante de nomes próprios femininos porque é facultativo o uso do artigo. Observe:
Paula é muito bonita
Laura é minha amiga.
A Paula é muito bonita.
A Laura é minha amiga.
Como podemos constatar, é facultativo o uso do artigo feminino diante de nomes próprios femininos, então podemos escrever as frases abaixo das seguintes formas:
Entreguei o cartão a Paula.
Entreguei o cartão a Roberto.
Entreguei o cartão à Paula.
Entreguei o cartão ao Roberto.
Contei a Laura o que havia ocorrido na noite passada.
Contei a Pedro o que havia ocorrido na noite passada.
Contei à Laura o que havia ocorrido na noite passada.
Contei ao Pedro o que havia ocorrido na noite passada.
- diante de pronome possessivo feminino:
Observação: É facultativo o uso da crase diante de pronomes possesivos femininos porque é facultativo o uso do artigo. Observe:
Minha avó tem setenta anos.
Minha irmã está esperando por você.
A minha avó tem setenta anos.
A minha irmã está esperando por você.
Sendo facultativo o uso do artigo feminino diante de pronomes possessivos femininos, então podemos escrever as frases abaixo das seguintes formas:
Cedi o lugar a minha avó.
Cedi o lugar a meu avô.
Cedi o lugar à minha avó.
Cedi o lugar ao meu avô.
Diga a sua irmã que estou esperando por ela.
Diga a seu irmão que estou esperando por ele.
Diga à sua irmã que estou esperando por ela.
Diga ao seu irmão que estou esperando por ele.
- depois da preposição até:
Fui até a praia.
ou
Fui até à praia.
Acompanhe-o até a porta.
ou
Acompanhe-o até à porta.
A palestra vai até as cinco horas da tarde.
ou
A palestra vai até às cinco horas da tarde

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